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A Metamorfose

Texto de Chuang Tzu (*)

Quatro homens entraram em discussão.


Cada qual falou:


«Quem souberTer o vazio como cabeça,A vida como espinha dorsalE a Morte como cauda,Este será meu amigo!»


Nisto todos se entreolharam,Viram que concordaram,Riram altoE ficaram amigos.


Depois um caiu doente


E o outro foi visitá-lo.


«Grande é o Criador», dizia o doente,«Que me fez como sou!»


«Estou tão confuso,

Meu tutano cobre a minha cabeça;

Sobre o meu umbigoDescanso a minha cabeça;

Meus ombros salientam-seAlém do pescoço;

Minha fronte é uma úlceraMedindo o céu;

Meu corpo é o caos,Mas minha mente está em ordem».


Arrastou-se para o poço,

Viu seu reflexo, e declarou:


«Que confusão Que ele fez de mim!»


Seu amigo perguntou-lhe:

«Você está desanimado?»


«Qual nada!Por que haveria de estar?

Se Ele me separa

E faz um galo

De meu ombro esquerdo,

Eu anunciarei a madrugada.

Se Ele fizer um arco

Do meu ombro direito

Procurarei pato assado.

Se meu assento se transformar em rodas

E se meu espírito vier a ser um cavalo,

Prepararei minha própria carroça

E andarei por aí.

Há um tempo de juntar

E um tempo de separar.

Aquele que entender

Este curso dos acontecimentos

Toma cada novo estado

Em sua devida hora

Sem nenhuma tristeza nem alegria.

Os antigos diziam:‘

O enforcado

Não pode cortar-se a si mesmo’.

Mas no tempo adequado

A Natureza é mais forte

Do que todas as cordas e elos.

Sempre foi assim.

Onde está uma razão

Para desanimar?»

(*) Chuang Tzu foi um grande filósofo taoísta do Séc. IV a.C., os textos aqui publicados são fruto de um grande esforço de compilação e meditação de Thomas Merton, um monge católico do Séc. XX d.C. que estudou os textos de Chuang Tzu em várias fontes, nenhuma delas sendo a original, mas traduções da fonte original. Finalmente, coube a Paulo Alceu Lima traduzir a Merton, do inglês para o português, conforme visto no livro “A Via de Chung Tzu” (Ed. Vozes, esgotado)

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