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A Riqueza – Parte 2


Adaptado do Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVI.14

É comum dizer que, quando o dinheiro é ganho com suor, melhor se conhece seu valor. Nada mais exato. Mas, se esse homem – que se recorda do quanto sofreu sem recursos – for egoísta e impiedoso para com os pobres, bem mais culpado será que um bem-nascido que ignora a fadiga do trabalho, porque, quanto melhor se conhece as dores ocultas da miséria, tanto mais propenso deve sentir-se em aliviá-las nos outros. Infelizmente, sempre há no homem que possui bens de fortuna um sentimento tão forte quanto o apego aos mesmos bens: é o orgulho. Quando um desgraçado que lhe pede assistência, em vez de acudi-lo, acaba dizendo: “Faça como eu fiz! Vá suar, trabalhar!” Quando não lembra que, se ninguém tivesse dado oportunidade a ele, não estaria onde está agora… para esta pessoa, a bondade de Deus não está por trás da obtenção da riqueza que conseguiu acumular; pertence a ele, e só a ele, o mérito de a possuir. O orgulho lhe põe sobre os olhos uma venda e lhe tapa os ouvidos. Apesar de toda a sua inteligência e de toda a sua aptidão, não compreende que, com uma só palavra, Deus o pode lançar por terra (sua situação pode mudar do dia para a noite).

Esbanjar a riqueza não é demonstrar desprendimento dos bens terrenos: é descaso e indiferença. Depositário desses bens, não tem o homem o direito de disperdiçá-los, como não o tem de confiscá-los em seu proveito. Prodigalidade não é generosidade: é, freqüentemente, uma modalidade do egoísmo. Aquele que esbanja horrores pra satisfazer um capricho por vezes não dá um centavo a um trabalho produtivo, uma prestação de serviço. O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros (e não apenas em benefício próprio), em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los. O pouco apego com que a pessoa se ligue a uma coisa faz com que menos dolorosa seja a sua perda. O homem que se aferra aos bens terrenos é como a criança que somente vê o momento que passa. O que deles se desprende é como o adulto que vê as coisas mais importantes, por compreender estas proféticas palavras de Jesus: “O meu reino não é deste mundo.” Mas a ninguém ordena o Senhor que se despoje do que possua, condenando-se a uma voluntária mendicância, porquanto o que tal fizesse tornar-se-ia uma carga para a sociedade. Seria um outro tipo de egoísmo, porque seria o indivíduo eximir-se da responsabilidade que a riqueza lhe trouxe. Rejeitar a riqueza, quando Deus a outorga, é renunciar aos benefícios do bem que se pode fazer, gerindo-a com critério. Sabendo prescindir dela quando não a tem, sabendo empregá-la utilmente quando a possui, sabendo sacrificá-la quando necessário, procede a criatura de acordo com os desígnios do Senhor.

Em resumo: Sabei contentar-se com pouco. Se és pobre, não inveje os ricos, porque a riqueza não é necessária à felicidade. Se és rico, não esqueça que os bens de que dispõe estão apenas confiados a ti, e que tens de justificar seu emprego, como se fosse um dinheiro emprestado por alguém.

Se não sabeis restituir, não tendes o direito de pedir, e lembrai-vos de que aquele que dá aos pobres, salda a dívida que contraiu com Deus. (Lacordaire; 1863)

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