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A Teoria Gaia e a Gestalt

Atualizado: 16 de abr. de 2022

Por Luis Lira

A percepção de que o planeta Terra, com idade de 5 bilhões de anos é um ser vivo, pode ser um instrumento importante para a materialização da relação organismo/meio ambiente da Terapia Gestalt

A teoria Gaia, do cientista inglês James Lovelock, afirma que “a Vida e a Terra evoluem juntas, excluindo o paradigma da visão científica convencional, aonde reina o apartheid entre os vários campos das disciplinas ambientais”. A proposta dessa nova-antiga visão é fazer uma síntese das contribuições da geologia, geoquímica, biologia evolutiva e climatologia, transformando a concepção grega da Terra, enquanto deusa viva, numa teoria fundamentada cientificamente e apoiada em uma nova disciplina, a Geofisiologia.


Entretanto, apresentar o planeta Terra como Gaia – Mãe Natureza – de forma compreensível e tentar levantar algumas questões que mostrem a famosa relação organismo-ambiente e as dinâmicas fronteiras de contato é, para um geólogo, uma tarefa difícil e, por que não dizer, audaciosa.

Perls, o pai da Terapia Gestalt, dizia que não é possível analisar um ser humano independente do oxigênio que ele respira. Mesmo que suas palavras não devam ser tomadas ao pé da letra, o oxigênio, elemento chave para a existência da vida, está presente na atmosfera numa percentagem de 20,8%. Se sua concentração estivesse acima desse valor, relâmpagos poderiam transformar o planeta numa bola de fogo; valores abaixo acarretariam uma deficiência desse elemento para muitas espécies que não sobreviveriam, inclusive a nossa.

As algas microscópicas que vivem nos ambientes aquáticos, notadamente nos oceanos – fitoplancton – são as maiores responsáveis pela regulagem do percentual de oxigênio na atmosfera. Elas se beneficiam da “tecnologia” conhecida como fotossíntese, que é a transformação do C02 em oxigênio livre, na presença de luz solar.

É preciso ressaltar que os vegetais são os nossos “órgãos” externos da respiração. Eles retiram o CO2 e fornece o oxigênio, elemento indispensável para a vida animal. Da mesma maneira, sem o reino animal as plantas também morreriam, pois nós devolvemos à atmosfera o CO2, o mais importante “alimento” das plantas.

Todos sabem da importância da respiração e da necessidade de respirar um ar puro, hoje difícil nos grandes aglomerados urbanos. Até que ponto o não saber respirar corretamente ou respirar um ar contaminado interfere no equilíbrio (saúde) humano?

Um outro exemplo que demonstra que a Terra funciona como um organismo vivo é a salinidade das águas marinhas. A água do mar é salgada devido à quantidade de sais nela dissolvida, que chegaram e chegam aos oceanos através das erupções vulcânicas e do aporte de águas continentais. Se considerarmos os últimos 18 milhões de anos, a quantidade de sais lançados pelos rios no ambiente marinho já seria suficiente para transformar os oceanos em um verdadeiro mar morto, com teor de salinidade acima de 40%. Entretanto, a quantidade média de sais na água do mar permanece, desde origem dos oceanos, em 35%, porque os organismos microscópicos que habitam o ecossistema marinho concentram excesso de sais, permitindo que exista vida.

A origem da vida, como diz a ciência, se deu a 3 bilhões de anos, nos oceanos, e nós somos – à luz da teoria da evolução de Darwin – filhos desse grande útero materno.

Levando-se em consideração a quantidade de água que caiu na Terra ao longo de sua história geológica, ela seria suficiente para tornar o pH de todos os solos ácidos, tornando inviável a presença de vegetação no planeta. Entretanto, as bactérias e outros microorganismos que vivem nos solos garantem a cobertura vegetal. Os vegetais, por sua vez, interferem sobre o clima. Não fossem os mecanismos utilizados pelo fitoplâncton, zooplâncton e pelos microorganismos do solo, não existiria vida no planeta Terra.

Percebendo a Terra como ser vivo, Peter Russel, em seu livro “O Despertar da Terra” advoga que nós, seres humanos, constituímos as células do cérebro do planeta. Seria esse o inconsciente coletivo de Jung, produto do pensamento de 6 bilhões de “células” que formam o “cérebro global” da Terra viva?

Os desequilíbrios do planeta, provocados pela emissão de gases estufa na atmosfera, chuvas ácidas, buraco na camada de ozônio, desmatamentos e extinção de espécies, não sugere que o ser humano, como célula do cérebro do planeta, esteja naturalmente desequilibrado, precisando religar-se com os princípios de sua evolução biológica?

Inserir técnicas que levem o homem ao contato com o ambiente natural não seria um instrumento importante na prática da Terapia Gestalt? Saber que nós somos o planeta, materializado, quando estamos em awareness com Gaia, é sem dúvida um elemento importante na compreensão da teoria da percepção enfocada pela Gestalt. Somos parte de Gaia e, como a parte contém o todo e o todo é maior do que a soma das partes, a Terra é a totalidade. A mãe natureza está doente. Ela necessita de um olhar sensível e equilibrado para se manter viva. Temos que deixar de se comportar como um ego encapsulado na pele (“Tudo que estiver dentro de minha pele sou eu, e o que está fora de minha pele não sou eu”). É preciso tornar porosa as fronteiras de contato. A Terra é a personagem principal. Nós, seres humanos, que adoecemos Gaia, não deveríamos ser figurantes, como forma de garantir a própria sobrevivência?

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