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O Evangelho Segundo Johann Sebastian Bach

Atualizado: 24 de mar. de 2022

“Pode ser que nem todos os músicos acreditem em Deus; em Bach, porém, todos acreditam”


Há exatos 334 anos nascia em Eisenach, Alemanha, o Pai da música. Reverenciado por todos os compositores que o sucederam e responsável por abrir um mundo de possibilidades criativas, Johann Sebastian Bach é, sem dúvida alguma, o grande arquiteto da música clássica.

Sua música é uma manifestação clara da divindade. Ouvir sua obra é uma experiência arrebatadora, uma oportunidade de reflexão, de autoconhecimento e, ao mesmo tempo, elevação. Nietzsche, o grande filósofo alemão, não pensava diferente: “Esta semana, ouvi três vezes a Paixão Segundo São Mateus do divino Bach e a cada vez com o mesmo sentimento de infinita admiração. Quem desaprendeu totalmente a cristandade tem a chance de ouvi-la como um Evangelho.”

Apesar do seu temperamento vulcânico, Bach era uma pessoa de natureza bondosa e de postura modesta. Não pensava na posteridade nem se gabava de suas habilidades. Acreditava que tinha muito a aprender com todos. Prova disso foram as transcrições que fez das obras de Vivaldi, o que ajudou a melhorar a sua escrita. Em determinada ocasião, ele percorreu 350 km a pé apenas para ouvir o organista e compositor Buxtehude.


O Gênio

Sua genialidade é comparável a de Shakespeare, Newton e Einstein. O que seus professores ensinaram, foram apenas rudimentos da teoria musical. A excelência no cravo, no órgão e na arte da composição, Bach adquiriu da mesma maneira que um mago com seus grimórios, estudando a luz de velas, tocando e copiando partituras de outros compositores.

Aprender sozinho estes instrumentos e atingir o nível que Bach atingiu é no mínimo impossível para a maioria dos seres humanos. Fica evidente que Bach é um indicio de alma avançada que, por meio de duro esforço em muitas vidas anteriores, desenvolveu em si mesmo algo que vai além das realizações normais da humanidade.

“O gênio não pode ser explicado pela hereditariedade, pois esta se relaciona apenas parcialmente com o corpo denso, não com as qualidades anímicas. Se o gênio pudesse ser explicado pela hereditariedade, por que não há uma longa linhagem comum de mecânicos entre os ancestrais de Thomas Edison, cada qual mais capacitado do que seu predecessor? Por que o gênio não se propaga? (…) Quando a expressão do gênio depende da posse de órgãos especialmente construídos, que requerem longo tempo de desenvolvimento, o Ego renasce naturalmente em uma família de Egos que tenham trabalhado gerações inteiras para construir organismos semelhantes. Esta é a razão de terem nascido, na família Bach, vinte e nove músicos, mais ou menos geniais, durante um período de duzentos e cinqüenta anos. Que o gênio é uma expressão da alma e não do corpo é demonstrado pelo fato de que essa faculdade não se aperfeiçoou gradativamente, alcançando sua  máxima expressão na pessoa de Johann Sebastian Bach. Antes, sua proficiência estava muito acima não só da dos antecessores como dos sucessores. O corpo é simplesmente um instrumento, cujo trabalho depende do Ego que o guia, assim como a qualidade de uma melodia depende da habilidade do músico e do timbre do instrumento. Um bom músico não pode expressar-se plenamente num instrumento pobre, assim como nem todos os músicos podem tocar de modo igual no mesmo instrumento. Que um Ego procure renascer como filho de um grande músico não significa necessariamente que venha a ser um gênio maior que o pai, o que forçosamente sucederia se o gênio fosse herança física e não uma qualidade anímica.” (Max Heindel, Conceito Rosacruz de Cosmos)


Bach e os Rosacruzes

No texto “Johann Sebastian Bach e os Rosacruzes” (Fraternidade Rosacruz) o autor nos demonstra o uso da numerologia bachiana e especula sobre sua possível filiação rosacruciana.

O fato é que Bach foi membro da Sociedade das Ciências Musicais de Leipzig, Alemanha, uma Associação ligada ao caminho iniciático, ingressando desta forma no “mundo oculto da música”.

Segundo consta, conceitos de filosofia e matemática em conjunto com pesquisas cabalísticas e alfabetos mágicos, originaram fórmulas secretas e enigmáticas utilizadas nas composições musicais dos iniciados nesta sociedade. Esta “formulação iniciática” nas músicas eram aplicadas nos intervalos, figurações rítmicas, harmônicas, etc.

É interessante ver que a Ordem Rosacruz (AMORC) intitula a Ária da Suíte nº3 de Sinfonia Mística e a considera como uma obra de elevadíssimos ideais, sugerindo-a como um tema místico para meditação.

De uma forma ou de outra, eu acredito que Bach fora iniciado muito antes de entrar em alguma ordem de caráter iniciático. O sistema de magia musical se cristalizou nas músicas de Bach, construindo catedrais no plano astral que serviu de sustentáculo para toda a música posterior a ele.


“A Paixão de Cristo” pela Música

Bach escreveu três paixões durante sua carreira, a de são Mateus, a de são João e a de são Marcos, embora grande parte desta última tenha se perdido.

A paixão segundo são Mateus, para coro duplo, orquestra dupla, dois órgãos e solistas é uma obra grandiosa, exibida pela primeira vez na Sexta-Feira Santa de  1727.

A estrutura narrativa é a seguinte: o evangelista revela os fatos à medida que acontecem nos recitativos, com ocasionais versos dialogados entoados pelos solistas. O coro ora tem papel participativo direto, p. ex. introduzindo o diálogo no drama pela voz do povo, ora oferece comentários e entoa preces, incluindo corais interpostos.

Parte I – A obra abre com um prólogo no qual o coro lamenta os fatos vindouros. A narrativa começa propriamente em Betânia, com o Cristo prevendo sua própria e iminente crucificação. A trama segue o episódio da cumplicidade de Judas com os fariseus, os apelos de Jesus a Deus e, por fim, a traição e a prisão. Depois de cada seçãoda narrativa, um comentário é inserido na forma de recitativo e ária ou coral.

Parte II – Após outro Prólogo, que lamenta a prisão de Jesus, a segunda parte começa com o interrogatório perante Caiafás, a negação de Pedro e o julgamento por Pilatos. Bach conclui a obra com a crucificação, morte e sepultamento de Jesus, seguindo-se um coro final de lamento

Para narrar o martírio e a morte de Cristo, Bach usa os capítulos 26 e 27 do Evangelho de São Mateus e em alguns trechos ele emprega textos poéticos de Christian Friedrich Henrici, conhecido como Picander.

A igreja onde Bach trabalhava é um aspecto de grande importância, sua estrutura permitia que dois coros se posicionassem um de frente para o outro, possibilitando a criação de um efeito estéreo, fator que contribuiu para a dramaticidade dessa obra.

Outro aspecto interessante é a forma com que Bach tratou os recitativos cantados por Jesus. Diferente do comum, que seria um recitativo seco, acompanhado apenas pelo contínuo, Jesus é acompanhado pelas cordas, criando um efeito de amplidão e doçura, como se Deus ali estivesse amparando seu filho. Somente quando Jesus diz Eli, Eli, lemá sabactháni? (Meu Pai, meu Pai, por que me abandonaste?), esse acompanhamento desaparece.

A escrita dessa obra é perfeita, temos a nítida impressão que Deus a ditou para Bach e ele apenas a transcreveu. Não foi a toa que lhe deram o título de “O Quinto Evangelista”. Bach concordava com Lutero quando este dizia: “Com a exceção da teologia, não há nenhuma arte que possa ser colocada no mesmo nível da música (…) onde há música devocional, Deus está presente”

“As palavras de Cristo são sempre pronunciadas num estilo declamato, carregado de elã místico e verdade profética, acompanhado pelas cordas, quase sempre por sequências de acordes, mas também, com ornamentos independentes da linha do canto, em atmosferas que se movem entre a tristeza, a ternura, o celestial, derivando por instantes até o estilo próprio arioso (…) Podemos imaginar que Bach tinha consciência de ter criado uma obra única, de ter aprofundado a natureza do Cristo como se ele estivesse vivo em seu próprio intelecto, mas o que poderíamos compreender, a respeito dessa obra-prima, será para sempre obscurecido e limitado pela inadequação de nossos esforços e a inferioridade manifesta da teoria diante da verdadeira beleza.” (Basso, pesquisador italiano)

O fato é que nem os ateus mais ferrenhos escapam de serem evangelizados pela musica de Bach, até mesmo Richard Dawkins, ateu de carteirinha, é um convertido confesso da Paixão Segundo São Mateus. E aí, o que vocês acham, Bach era ou não era um mago?


Soli Deo gloria

Para ouvir antes de morrer

O Cravo Bem-Temperado, BWV846-893 Missa em Si Menor, BWV232 Seis suítes para violoncelo Solo, BWV1007-1012 Oratório de Natal, BWV248 Paixão Segundo São Mateus, BWV244 Concertos de Brandenburgo, BWV1046-1051 Oferenda Musical, BWV1079



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Fabio Almeida é membro do Projeto Mayhem e autor do blog Sinfonia Cósmica.

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