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O Salmo 22 e o Salmo 30


A palavra Salmo vem do grego Psalmos, derivado do nome do instrumento de cordas que acompanhava os cânticos (psaltérion). A palavra em hebraico é Tehilim, e significa louvores, hinos. São ao todo 150 salmos, sendo mais de 70 atribuídos a David. O livro é uma coletânea das devoções espontâneas e das crenças de Israel desde a Monarquia até o período pós-exílico. O Salmo 22 é dos mais interessantes, e prediz a vinda do Messias e os momentos de sofrimento na cruz com detalhes impressionantes, quando nem sequer existia o costume da crucificação pelos romanos:

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Não te distancies de mim, pois a angústia está perto, e não há quem me acuda. Muitos touros me cercam; fortes touros de Basã me rodeiam. Abrem contra mim sua boca, como um leão que despedaça e que ruge. Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram… Pois cães me rodeiam; um ajuntamento de malfeitores me cerca; transpassaram-me as mãos e os pés. Eles me olham e ficam a mirar-me. Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançam sortes”.

David reinou por volta do ano 1010 a 970 a.C. Nesta época, os judeus já admitiam que as almas, tanto dos justos quanto dos pecadores, sobreviviam à morte do corpo, mas em estado de vida latente, permanecendo no Sheol (ou Seol). Nos seus Salmos, David demonstra que não aceitava este conceito de Sheol eterno e, juntamente com os profetas, lançou o conceito de “Mundo por vir” (Olam ha-bá), que era a morada da alma, após a morte, no celestial jardim do Éden. David foi ungido rei por Samuel, filho de Ana e de Elcana. No livro 1 Samuel 2:6 encontra-se o cântico de Ana, onde está escrito: “O Senhor dá a morte e a vida, faz descer ao Sheol e de lá voltar”. David aliou a estes conhecimentos reencarnacionistas o conceito espiritual da Lei do Levirato. Tanto é que o primeiro livro da Cabalá judaica, o Sêfer ha-Bair (Livro da Iluminação), escrito no Séc. I, afirma que, no Levirato, o marido morto volta literalmente à vida no filho nascido de sua mulher, ou seja, descendência reencarnatória.

O Salmo 30 trata de arrependimento, e o pedido de uma nova chance, que foi concedida através da reencarnação. Hoje é usado tanto como prece de sucesso como de agradecimento. É usado nas preces diárias dos judeus. Quando o Templo existia, era ali entoado, durante as cerimônias realizadas para a expansão de seu pátio:

“Exaltar-te-ei, ó Senhor, porque tu me levantaste, e não permitiste que meus inimigos se alegrassem sobre mim. Ó Senhor, Deus meu, a ti clamei, e tu me curaste. Senhor, fizeste subir a minha alma do Sheol, me fizeste reviver dos que descem à cova. Cantai louvores ao Senhor, vós que sois seus santos, e louvai o seu santo nome. Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite; pela manhã, porém, vem o cântico de júbilo. Quanto a mim, dizia eu na minha prosperidade: Jamais serei abalado. Tu, Senhor, pelo teu favor fizeste que a minha montanha permanecesse forte; ocultaste o teu rosto, e fiquei conturbado. A ti, Senhor, clamei, e ao Senhor supliquei: Que proveito haverá no meu sangue, se eu descer à cova? Porventura te louvará o pó? Anunciará ele a tua verdade? Ouve, Senhor, e tem compaixão de mim! Ó Senhor, sê o meu ajudador! Tornaste o meu pranto em regozijo, tiraste o meu cilício, e me cingiste de alegria; para que a minha alma te cante louvores, e não se cale. Senhor, Deus meu, eu te louvarei para sempre”.

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