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Zhuangzi – O Irreverente

Atualizado: 16 de mai. de 2022



Por Gilberto Antônio Silva

O Taoísmo é uma das filosofias que mais marcou o pensamento chinês em todos os tempos. Mas quando se fala sobre essa filosofia, normalmente pensamos em Laozi (Lao-Tzu) e sua obra, o Tao Te Ching, ou então no I Ching, a obra clássica do taoísmo. Poucos se lembram desta figura irreverente e extrovertida, que com seu humor levou a filosofia do Tao a imperadores e intelectuais: Zhuangzi (Chuang-Tsé).

O Homem e a Obra Pouco se sabe sobre a vida deste grande sábio. As únicas referências históricas são as notas do grande historiador chinês Sima Qian (145-85 a.C.) em sua obra Shiji (Registros do Historiador). Segundo nos chega do distante passado chinês, Zhuangzi nasceu com o nome de Zhuang Zhou, em Meng, e viveu por volta do século IV a.C. tendo sido funcionário público por algum tempo.

Os escritos atribuídos a ele somam 33 capítulos, dos quais apenas os 7 primeiros podem ser endossados com relativa segurança, segundo consenso geral entre os estudiosos. Os demais parecem ter sido acrescentados ao corpo da obra principal séculos depois, embora possuam em muitas passagens os mesmos traços característicos do grande sábio.

Sua escrita se revela em traços cômicos e críticas irônicas, às vezes cruéis, de seus opositores, particularmente os confucionistas. Apegados aos rituais e às regras de moral de Confúcio, eles batiam de frente com a liberdade e a não-ação (Wuwei) pregadas pelo taoísmo defendido por Chuang-Tsé. Suas histórias, às vezes verdadeiras piadas, são partes muito queridas e apreciadas da literatura chinesa, principalmente por intelectuais, visto que muitas vezes sua obra se reveste de uma sutileza ímpar.

Mas vamos dar a palavra ao sábio chinês e deixar que você mesmo julgue.

A Cauda da Tartaruga Zhuangzi estava pescando certa tarde em um lago. Eis que chegam dois altos dignatários do Imperador e se dirigem a ele, cheios de formalidade: – Grandíssimo senhor, sois Mestre Zhuangzi? Zhuangzi olhou desconfiado para eles e respondeu simplesmente: – Sou Zhuang. – Ah, finalmente o encontramos. O Imperador solicita ao senhor que aceite ser seu Ministro de Estado, com todas as honras e privilégios do cargo, devido à sua grande sabedoria. Zhuangzi pensou um momento e respondeu: – Num santuário imperial existe a carapaça de uma tartaruga sagrada que viveu mil anos. Ela está no altar principal e é reverenciada e admirada por todos. Mas diga-me: essa tartaruga preferia ter sua carapaça morta honrada e admirada ou preferia arrastar sua cauda na lama? – Ora, ela com certeza iria preferir arrastar sua cauda na lama! – Muito bem, ide então. Vou continuar arrastando minha cauda na lama – disse ele, voltando à sua pescaria.

O Sonho Zhuangzi estava muito preocupado, sentado em uma pedra. Um amigo seu perguntou qual o problema. – Esta noite sonhei que era uma borboleta. Batia minhas asas e voava de flor em flor, feliz e contente. Era uma sensação muito vívida e a liberdade, maravilhosa. Repentinamente acordei de meu sonho e voltei a ser Zhuang. – Ora, e o que tem isso de extraordinário? Todos, às vezes, sonhamos dessa forma. – Sim, mas quem sou eu? Serei Zhuang que sonhou ser uma borboleta ou serei uma borboleta que está sonhando ser Zhuang neste momento?

A Resposta de Laozi Um homem chamado Nanjung Chu procurou Laozi na esperança de encontrar respostas às suas preocupações. Ao se aproximar, Laozi falou: – Por que me procurou com toda essa multidão de gente? Ele se virou para trás para ver que multidão havia, mas nada viu. [Essa história é muito interessante por ser a ancestral do conto Zen da xícara vazia, que todo mundo conhece. A multidão a que se refere Laozi é o conjunto de conceitos, velhas idéias, certo e errado, vida e morte, preconceitos e outros que carregamos aonde vamos. Ao buscar novas idéias, devemos nos afastar desta “multidão” que nos segue aonde quer que vamos.]

O Vinho e o Tao Laozi estava sentado em uma taberna, saboreando seu vinho quando passou Confúcio e o viu pela janela. Entrando cautelosamente, procurou o sábio e o repreendeu: – Você prega a sabedoria do Tao e está aqui tomando o vinho da embriaguez? Não tem vergonha? O que dirão as pessoas ao verem você aqui? Laozi olhou para ele e encheu o copo. – Onde mora o Tao? Confúcio nem piscou. – Ora, o Tao está em todo lugar. – Então o Tao está nesta mesa, neste banco, neste copo e neste vinho, não? Então não existe problema nenhum: estou me embriagando de Tao. Confúcio não respondeu e saiu. Chegando junto a seus discípulos, estes lhe perguntaram por que estava tão transtornado e ele lhes respondeu: – Hoje vi um dragão. [Quer dizer, uma pessoa de grande sabedoria. Esta história ilustra a maneira como Zhuangzi falava dos confucionistas e como a liberdade taoísta se chocava com as regras morais do confucionismo]

Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo e Jornalista. Como Taoísta, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica filosofia-religião chinesa. Site: www.taoismo.org

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